terça-feira, 15 de junho de 2010

TEMPOS DIFÍCEIS

Por Ubiratan Iorio


05/05/2010



Vivemos hoje uma época em que os parâmetros tradicionais de julgamento, tais como os mandamentos morais religiosos, os princípios éticos de comportamento derivados de leis naturais imutáveis e as máximas de ordem prática aprovadas nos testes universais da razão e da ação humana parecem não mais corresponder ao mundo real, ou, para usarmos a expressão de Eric Voegelin, à Primeira Realidade.

A impressão que temos é que a maioria das pessoas, mesmo sem negar a correção daqueles mandamentos, valores e princípios, tende a considerá-los como meros padrões tradicionais – simples coisas de nossos antepassados e inteiramente demodées-, como se não tivessem sido consagrados durante séculos pelos usos e costumes e, consequentemente, a enxergá-los como meras prescrições inúteis no que se refere ao que fazer nas circunstâncias e ações práticas de suas vidas. E, assim, tendem a esquecê-los em um empoeirado baú guardado em algum lugar de suas atônitas consciências.

Quando as coisas estão desse jeito, as pessoas de bem não podem se omitir: devem agir, mesmo que sua ação pareça algo temerário, como tentar navegar contra a forte procela do relativismo moral que vem varrendo os mares da sociedade humana.

Para Hannah Arendt, filosofia é pensar e política é agir, ao que acrescento que a economia, assim como todos os atos de nossas vidas, a exemplo da política, também correspondem a um agir. Precisamos lutar pela recuperação moral da ação humana nos campos da política, da economia e da vida integral de cada ser humano, neste ambiente desalentador em que praticamente todos os valores acatados tradicionalmente pela sociedade são, na melhor das hipóteses, questionados como “polêmicos” e na pior, simplesmente, desprezados.

Ora, um ato ou ação, seja no campo econômico, no político ou no da vida pessoal, só pode revestir-se de dignidade se sua prática estiver em conformidade com os valores morais da tradição. É dever de cada um lutar pela re-incorporação desses princípios em todos os campos da ação humana, cada um de nós do jeito e da forma que estiver ao seu alcance.

Precisamos voltar a enaltecer bons exemplos e não desvios comportamentais como faz ininterruptamente a maioria da mídia; temos que recuperar o respeito pelo próximo e não o desrespeito como vemos por aí a torto e a direito; é necessário voltarmos a olhar para a consciência individual como a verdadeira fonte da riqueza moral e do patrimônio ético, se não quisermos que a fuga deliberada do homem à sua transcendência acabe de vez com o que chamamos de civilização, embora, no estado de perplexidade hoje predominante, “civilização” ou “modernidade” possam significar não mais do que o rompimento com o passado e com a tradição, ou seja, exatamente o oposto do que vem a ser.

Todo e qualquer ato, seja político, econômico ou pessoal, reveste-se de algum significado moral: pode ser moralmente certo, neutro ou errado. Por isso, quando um político desviar recursos públicos em benefício próprio; quando homens ou mulheres, para aparecerem em manchetes e capas de revistas, praticarem atos moralmente condenáveis; quando alguém defender a cultura da morte sob o pretexto de que “a mulher tem direito a fazer o que bem entender com o próprio corpo”; quando juízes colocarem criminosos condenados na rua; quando tentarem relacionar o celibato dos sacerdotes com o crime da pedofilia (quando apenas 0,5% do clero respondem por acusações desse desvio e quando praticamente a totalidade dos acusados são membros de outras religiões que não a católica ou, predominantemente, leigos e, portanto, não sujeitos ao celibato); quando empresas privadas participarem de concorrências fraudulentas; quando empresas públicas financiarem atos políticos dos governos que detêm seu controle; quando, enfim, você perceber qualquer ato que fira a tradição moral que herdou de seus pais e avós, não fique quieto! Escreva artigos, ou mande cartas para os jornais, ou critique esses e outros descalabros nas conversas com amigos no trabalho, na universidade, no metrô ou em qualquer outro lugar. Enfim, em uma palavra: aja!

Os tempos são mesmo difíceis, mas, se não mostrarmos coragem para fazer as pazes com o insubstituível legado moral do passado, não teremos futuro!



(Disponível em: http://www.ubirataniorio.org/blog.htm)

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