quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

VOCÊ RECONHECE QUANDO CHEGA A FELICIDADE?

Por Ana Paula Padrão

"Forçar uma situação de felicidade tem tudo para terminar em arrependimento e frustração"


Tenho uma forte antipatia pela obrigação de ser feliz que acompanha o Carnaval. Quem foge da folia ganha o rótulo de antissocial, depressivo ou chato. Nada contra o Carnaval. Apenas contra essa confusão de conceitos. Uma festa alegre não significa que você esteja plenamente feliz. E forçar uma situação de felicidade tem tudo para terminar em arrependimento e frustração. Aliás, você reconhece a felicidade quando ela chega? Sabe que está sendo feliz naquele momento? Espere um pouco antes de responder. Pense de novo.

Estamos falando de felicidade! Não de uma alegria qualquer. E qual é a diferença? Bem, descrever a felicidade não é fácil. Ela é muito recatada. Não fica ali, posando para foto, sabe? Mas um Manual de Reconhecimento da Felicidade diria mais ou menos o seguinte: Ela é mansa. Não faz barulho. Ao mesmo tempo é farta. Quando chega, ocupa um espaço danado. Apesar disso, você quase não repara que ela está ali. Se chamar a atenção, não é ela. É euforia. Alegria. A licenciosidade de uma noite de Carnaval. Ou um reles frenesi qualquer, disfarçado de felicidade.

A dita cuja é discreta. Discretíssima. E muito tranquila. Ela te faz dormir melhor. E olha, vou te contar uma coisa: a felicidade é inimiga da ansiedade. As duas não podem nem se ver. Essa é a melhor pista para o seu Manual de Reconhecimento da Felicidade. Se você se apaixonou e está naquela fase de pura ansiedade, mesmo que esteja superfeliz, não é felicidade. É excitação. Paixonite. Quando a ansiedade for embora, pode ser que a felicidade chegue. Mas ninguém garante.

É temperamental, a felicidade. Não vem por qualquer coisa. E para ficar então… hi, não conheço nenhum caso de alguém que a tenha tido por perto a vida inteira. Por isso é tão importante reconhecê-la quando ela chega. Entendeu agora por que a minha pergunta? Será que você sabe mesmo quando está feliz? Ou será que você só consegue saber que foi feliz quando a felicidade já passou?

Eu estudo muito a felicidade. Mas não consigo reconhecê-la. Talvez porque eu seja péssima fisionomista. Ou porque ela seja muito mais esperta do que eu. Mais sábia. Fato é que eu só sei que fui feliz depois. No futuro. Olho para o passado e reconheço: “Nossa, como eu fui feliz naquela época!” Mas no presente ela sempre me dá uma rasteira. Ando por aí, feliz da vida e nem sei que estou nesse estado. Por isso aproveito menos do que poderia a graça que é ter assim, tão pertinho, a tal da felicidade.

Nos últimos tempos, dei para fazer uma lista de momentos felizes. E aqui é importante deixar claro que esses momentos devem durar um certo período de tempo. Um episódio isolado feliz – como quatro dias de Carnaval, por exemplo – não significa felicidade. A felicidade, quando vem, não vem de passagem. Não dura para sempre, mas dura um tempinho. Gosta de uma certa estabilidade, a danada! O problema é saber que ela está ali na hora em que ela está ali. Mas, voltando à lista, até que ela é longa.

Já fui bastante feliz. Talvez não na maior parte do tempo. Mas acho que ninguém é. A lista é um grande exercício. Sabendo quando você foi feliz, é mais fácil descobrir por que você foi feliz. Para ser ainda mais funcional, é bom que a lista seja cronológica. Lendo a minha, constato que fico cada vez mais feliz e por mais tempo. Será que ela está aqui agora? Não sei dizer. Mas a paz de que desfruto agora é um sintoma dela.

E isso não tem nada a ver com a tal obrigação de ser feliz desfilando no Sambódromo. Continuo meus estudos. Já tenho certeza de que hoje sou mais amiga da felicidade do que jamais fui em qualquer tempo.


FONTE:
http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/colunista/45_ANA+PAULA+PADRAO

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A PSEUDO-ALEGRIA DO CARNAVAL (breve reflexão)

Por Belcorígenes de Souza Sampaio Júnior

Definitivamente não sou contra a alegria. O que eu não entendo é como uma palavra tão bela e desejável como essa (ALEGRIA) possa se tornar sinônima de excessos indevidos. Neste “festival da carne” (carni-val) muitos (NÃO TODOS) acreditam possuir uma licença para “fazer” o que não seria normalmente lícito, prudente ou recomendável. Estranhamente associam “alegria” com falta de prudência e decência. Eu tenho que discordar já que “alegria” denota algo mais profundo do que meros desvarios de momento, risos estridentes, copos etílicos sempre à mão e CORPOS gratuitamente em oferta.

Entendo que quem se expõe exageradamente nesta “festa” (cometendo todos os excessos a que julga “ter direito”) está apenas demonstrando a sua infelicidade e também a sua solidão (que até fica bem disfarçada dentro de uma festa popular).

Na verdade, é por “falta de alegria” (ou sentido) com suas próprias vidas que pessoas se excedem em comportamentos autodestrutivos (da vida, da honra, da imagem), e para se justificarem perante as suas consciências (os que ainda as tem) invertem o sentido e batizam essa “desalegria” como ALEGRIA. Aliás, por falar em autodestruição eu nem sei como denominar o comportamento de quem não entrega carro, patrimônio ou casa a qualquer pessoa, mas que paradoxalmente oferece o que tem de mais valioso, O SEU PRÓPRIO CORPO, ao desfrute de um estranho qualquer. Será prostituição? Não com certeza, pois essa é menos gravosa já que se dá por dinheiro e quase sempre por falta de opção, ao contrário do que acontece nos ditos carnavais.

Quem age e vive assim está no seu lídimo direito de fazer o que quiser com sua própria vida, só não queira me convencer de que se pode realmente ser feliz desse jeito: “uma vez a cada carnaval”. Há maneiras infinitamente mais dignas e melhores de ser alegrar, e ser FELIZ de verdade.

.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O VELHO TEMA DO EU E DO OUTRO

Por Artur da Távola

Veja se dá para entender: a gente, para a gente mesmo, é a gente. Raramente consegue ser o outro. A gente, para o outro, não é a gente, é o outro. Deve estar confuso. Tento de novo. Cada um de nós vive uma ambiguidade fundamental: ser a gente e ao mesmo tempo, ser o outro. Pra gente, a gente é a gente. Para o outro, a gente é o outro.

Temos, portanto, dois estados: ser o eu de cada um de nós e ser o outro. Na vida de relação, pois temos que saber ser o ‘eu individual’ e ao mesmo tempo, aceitar funcionar em estado de alteridade (outro vem de ‘alter’), ou seja, de ‘outro’.

O outro, raramente nos considera como a gente (como pessoa singular, peculiar, própria, única, desigual). Em geral, ele nos considera como o ‘outro’. Daí surgem os conflitos. Não apenas o outro em geral não nos considera como ‘a gente’. Também a gente não sabe aceitar, ou raramente aceita, ser tratado como ‘outro’. A gente quer ser tratado como a gente sabe que é, e não como o outro nos considera.

A gente sempre tem esperança que o outro descubra o que a gente é. Mas isso é muito difícil, porque o outro nos vê como ‘outro’ ou como qualquer projeção dele, jamais nos vê como a gente se vê ou quer ser visto ou gostaria de ser visto.

Uma relação de duas pessoas dá-se portanto, em quatro etapas: i) para Joaquim, Maria é o outro; ii) para Joaquim, Joaquim é Joaquim; iii) para Maria, Joaquim é o outro; iv) para Maria, Maria é Maria.

Mas Maria quer que Joaquim não a veja como ‘o outro’ e sim como Maria. E Joaquim não quer ser visto como ‘o outro’, ele quer ser visto como Joaquim. Mas nem Maria o vê como Joaquim (e sim como ‘o outro’), nem Joaquim a vê como Maria (e sim como ‘o outro’ na pessoa dela).

É essa a vontade de que nos vejam como individualidade que somos, o que nos leva a exigir talvez demais daqueles que se relacionam conosco. Eles talvez não estejam preparados (raramente estão) para nos ver como ‘eus’, como unidades próprias, como somos ou como queremos ser.

Exigir dos demais que nos vejam em nossa individualidade é um fato de pouca sabedoria. Raramente eles o conseguem, porque se somos ‘eu’ para nós mesmos, somos outro para eles. Em estado de ‘eudade’ (de eu), somos uma pessoa. Em estado de alteridade, somos outra pessoa.

Conseguir, sem exigir ou cobrar, porém, que o outro não nos veja como ‘o outro’ que somos para ele, mas como o ‘eu’ que somos para a gente, é ato de sabedoria. Significa saber ser nítido, saber colocar-se como pessoa e como individualidade, saber ocupar o próprio espaço sem qualquer invasão do espaço dos demais ou sem qualquer limitação do que eles são e nos agregamos, por inveja ou por admiração (coisas muito parecidas).

Para tal, é mister que saibamos ver o outro não apenas como o ‘outro’, mas como o ‘eu dele’ para ele. Mais claro: significa ver o outro como ele é, na condição de ‘eu’ ou seja, de indivíduo próprio, peculiar, semelhante sim, mas desigual e não na condição de ‘outro’, que é como ele chega até nós.

É no centro dessa relação que está a essência do problema da comunicação e da comunhão (que vem a ser a mesma coisa).

Eu devo ser ‘eu’ para mim e para o outro. O outro deve ser o ‘eu-dele’ para mim. Eu devo aceitar ser ‘o outro’ para o outro. Mas devo desejar e conseguir ser ‘eu’ para ele. Eu, em estado de ‘eu’, devo aceitá-lo como outro. Eu, em estado de ‘outro’, devo aceitá-lo como o eu dele. Eu e ele somos ao mesmo tempo ‘eu’. Eu e ele somos ao mesmo tempo ‘ele’. Ele é ‘eu’ mas também é ele. Por isso somos, ao mesmo tempo, semelhantes e diferentes. Por isso somos irmãos. Por isso a humanidade é uma só. Por isso a igualdade humana é uma verdade, na diferença individual.

E, para terminar, um outro alcance, paralelo ao principal, mas verdadeiro nas relações humanas: o outro nunca sabe direito o que ele é e representa para a gente. E a vida nos vai ensinando a ser cada vez mais sozinhos, pelo acúmulo de não correspondência daqueles que sempre nos significam algo, mas nunca o souberam ou perceberam na exata medida. Ou então, preocupados em excesso com os próprios problemas nunca atenderam ao potencial de afeto que por eles ou para eles havia em nós e foi desgastando em uso ou dispersão, já que não o souberam receber.

Às vezes esse ‘outro’ é mesmo o outro. Aí é a gente que fica com o próprio gesto de amor solto no ar à espera de aceitação, entendimento e correspondência. Em ambos os casos, dói. Mas isso já é outra crônica.

.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

POR AMOR A LIBERDADE (Uma breve reflexão)

Por Belcorígenes de Souza Sampaio Júnior

Sou um amante da LIBERDADE e em razão disso devo respeitar qualquer pessoa que viva ou pense diferente de mim, em qualquer área da sua vida. Eu, por exemplo, já fui ateu e hoje sou convictamente cristão. Assim, admito qualquer tipo de divergência nesta seara. Por outro lado, entendo também ser pura perda de tempo tentar "convencer" pessoas autônomas sobre qualquer coisa, afinal "quem tem sede busca."

Não amo o debate pelo simples debate. Detesto a retórica em questões de liberdades éticas, como também detesto a ronda de consciências. Pessoas que vivem deliberadamente a provocar outras são prepotentes, ou inseguras e frustradas. Aliás, escolha é a palavra chave aqui: tudo é uma questão de ESCOLHA e atualmente eu escolho muito bem aqueles que vão participar da minha vida na condição de amigos. Neste grupo, não me importa as opções religiosas ou ideológicas professadas, mas sim o caráter íntegro de quem as cultiva.

O melhor traço de caráter que aprecio é sensibilidade com a liberdade alheia de crer no que quiser. Não invado este espaço de autodeterminação pessoal e não tenho que suportar ninguém que tente invadir o meu próprio espaço cognitivo, pelo simples fato de que sou LIVRE.

Posso aceitar que pessoas não concordem comigo e que até se aborreçam com a minha fé, inclusive na condição de ex-ateu conheço TODOS os argumentos neste sentido. O que não aceito é que alguém tente posar, e se impor, como inteligente ou superior, tão somente pelo fato da sua opção religiosa, ideológica ou intelectual (laica ou não). Não tenho tempo, e nem mesmo espaço, na minha vida para tais posturas arrogantes.

.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

SOLI DEO GLORIA

Por Belcorígenes de Souza Sampaio Júnior

Quando Jesus Cristo falava sobre a luta existente no interior do homem entre a carne e o espírito, ensinava que a força que precisamos pára dizer NÃO frente aos nossos desejos (impulsos e vontades), e permanecermos fieis àquilo que cremos, é muito maior que a aquela que precisaríamos para dizer SIM. Por isso mesmo Ele afirmou que veio para dar vidas aos “cativos,” aos “doentes”, aos “fracos”, aos “cansados e sobrecarregados”, aos que reconhecem que “sem Ele nada podem fazer”.

Se alguém é cristão de VERDADE sabe que na teologia novo testamentária não existem “fortes,” “sãos” ou “libertos” FORA da Graça de Cristo. Segundo a Palavra Dele, TODOS nós, sem exceção, dependemos do Seu Perdão e da Sua Graça Redentora. Sendo assim, ninguém é SUPERIOR a outrem pois não existe MÉRITO PESSOAL no caminho da salvação ("Porque é através da Graça que alcançamos salvação, pela fé; e isto não depende de nós, é uma dádiva de Deus; não se origina em obras humanas, para que ninguém engrandeça a si mesmo" - Efésios 2:8-9).

O próprio Senhor Jesus demonstrou isto de maneira bem clara na seguinte parábola: "Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: " Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: " Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado" (Lc 18.9-14).

Afastemos de nós a oração e a prática do FARISEU hipócrita. Aprendamos a orar e a viver como o PUBLICANO e somente então, como ele, seremos “justificados” por Cristo.

.