sexta-feira, 11 de março de 2011

(...) FIEL À SUA CONSCIÊNCIA.

Por Augusto Cury


Jesus, certa vez, contou uma história que perturbou os seus ouvintes, quebrou para sempre alguns paradigmas religiosos. Ele disse que havia um certo fariseu que orava de maneira eloqüente. O conteúdo da sua oração revelava a sua integridade. Nela, ele dizia a Deus que jejuava, dava ofertas e fazia orações constantes. Na mesma história, ele contou que havia um pobre moribundo que mal conseguia falar com Deus. Ele olhava para o céu, batia no peito e pedia compaixão. Provavelmente, não dava ofertas para o templo, não orava com freqüência e não tinha um comportamento ético. Sentia-se um miserável diante de Deus.

Qual dessas duas orações foi aceita por Deus? Se houvesse uma enquête em que opinassem todos os religiosos do mundo, provavelmente o fariseu ganharia disparado. Entretanto, para o espanto dos ouvintes, Jesus disse que sua oração não foi ouvida, não atingiu o coração do Criador. Por quê? Porque ele orava de si para si mesmo. Enquanto orava, ele se exaltava. Não procurava Deus no secreto do seu ser. SEGUNDO JESUS, DEUS OLHA PARA ALGO QUE QUEM ESTÁ DE FORA NÃO ENXERGA: PARA A CONSCIÊNCIA, A REAL INTENÇÃO (grifo nosso).

O FARISEU ACHAVA-SE UM HOMEM GRANDE DIANTE DE DEUS POR CAUSA DA SUA ÉTICA MORAL E RELIGIOSA. MAS NÃO ANALISAVA SEUS ERROS, NÃO ENXERGAVA QUE O CORAÇÃO QUE PULSA, O AR QUE RESPIRA, A MENTE QUE PENSA, ERAM DÁDIVAS DIVINAS. AOS OLHOS DO MESTRE DOS MESTRES, DEUS SE IMPORTA COM A CONSCIÊNCIA (grifo nosso).

O MISERÁVEL QUE NÃO CONSEGUIU SEQUER PRODUZIR UMA ORAÇÃO LÓGICA E DIGNA TOCOU O CORAÇÃO DE DEUS. ELE NÃO CONSEGUIU FAZER UM GRANDE DISCURSO EM SUA ORAÇÃO, PORQUE TINHA CONSCIÊNCIA DA SUA PEQUENEZ, DA SUA FALIBILIDADE E DA GRANDEZA DE DEUS. O meu ponto aqui não é entrar nos assuntos que tangem à fé, mas mostrar um dos mais complexos treinamentos de Jesus. Ele treinou seus discípulos a serem fiéis à sua consciência.

QUEM DISFARÇA, DISSIMULA E TEATRALIZA SEUS COMPORTAMENTOS NÃO TEM PARTE COM ELE. NÃO É A QUANTIDADE DE ERROS QUE DETERMINA A GRANDEZA DE UM DISCÍPULO, MAS SUA CAPACIDADE DE RECONHECÊ-LOS. UMA PESSOA PODIA TER MIL DEFEITOS, MAS SE TIVESSE A CORAGEM DE ADMITI-LOS, ELA TERIA CAMINHO (grifo nosso). O mesmo princípio ocorre na psiquiatria e psicologia modernas. Não temos nada para fazer por uma pessoa que se esconde dentro de si mesma, a não ser que ela tenha uma psicose.

Vivemos em sociedades que amam os disfarces e as máscaras sociais. As pessoas sorriem, mesmo solapadas pela tristeza; mantêm a aparência, mesmo que falidas; para os de fora são éticos, para os membros da família são carrascos. O sistema político simplesmente não sobrevive sem máscaras, disfarces e mentiras. Certa vez, o mestre da vida criticou os líderes religiosos comparando-os a sepulcros caiados. Por fora, têm belas pinturas, por dentro estão apodrecidos. Foi uma comparação corajosa, mas sincera. Muitos fariseus mantinham um comportamento religioso ilibado, mas, às ocultas, odiavam a ponto de matar.

No sermão do monte, Jesus disse que não bastava não matar, era necessário não se irar. Ele queria dizer que podemos não matar fisicamente, mas matamos interiormente. Muitos matam emocionalmente seus colegas de trabalho, seus amigos e, às vezes, até as pessoas que mais amam, quando elas os decepcionam.

JESUS ACEITAVA TODOS OS DEFEITOS DOS SEUS DISCÍPULOS, MAS NÃO ADMITIA QUE ELES NÃO FOSSEM TRANSPARENTES (grifo nosso). O único que não aprendeu essa lição foi Judas. Jesus ensinou-os a ser verdadeiros em toda e qualquer situação. Deu-lhes contínuos exemplos. Ele falava abertamente o que pensava. Sabia que poderia ser preso ou morto a qualquer momento, mas não se calava.

Em alguns momentos, o clima tenso dava arrepios. Mas o mestre dos mestres era intrépido, não calava a sua voz. Todavia, seu falar não era agressivo. Ele expunha com tranqüilidade e segurança suas idéias. Queria conquistar e não destruir as pessoas. Atualmente, alguns dizem que são honestos que sempre falam o que pensam. Mas, no fundo, são descontrolados, pois são agressivos, impulsivos, impõem o que pensam. Ao invés de conquistar as pessoas, eles as perdem. Jesus exalava serenidade. Embora fosse verdadeiro, em algumas situações optava pelo silêncio. Somente num segundo momento, falava.

Nas sociedades modernas as pessoas falam muito sobre o mundo exterior, mas se calam sobre os seus mais íntimos pensamentos. Muitos alunos têm medo de questionar seus professores. Muitos ouvintes têm receio de questionar seus líderes religiosos. Muitos funcionários têm medo de propor novas idéias aos executivos da sua empresa. Muitos novos cientistas têm receio de se confrontar com seus chefes de departamentos. São massacrados pelo sistema. Vivem represados. Mentes brilhantes são sufocadas, perpetuando conflitos que raramente serão reeditados.

NÃO PODEMOS SER CONTROLADOS PELO QUE OS OUTROS PENSAM E FALAM DE NÓS. SER GENTIL, SIM, MAS SE ESCONDER, NUNCA. O HOMEM QUE É INFIEL À SUA PRÓPRIA CONSCIÊNCIA JAMAIS QUITA A DÍVIDA CONSIGO MESMO (grifo nosso).

Os discípulos de Jesus tinham liberdade de falar com ele e expressar suas dúvidas. Eles foram treinados a ser fiéis à sua consciência e a ser simples como as pombas e prudentes como as serpentes. DEVERIAM SABER O QUE FALAR E COMO FALAR, MAS NÃO SE CALAR, NEM DIANTE DE REIS (grifo nosso). Deveriam aprender a falar com segurança e sensibilidade, com ousadia e sabedoria. DE NADA ADIANTARIA SE ELES CONQUISTASSEM O MUNDO, MAS NÃO CONQUISTASSEM A SUA PRÓPRIA CONSCIÊNCIA (grifo nosso).


FONTE: Cury, Augusto. O Mestre Inesquecível. São Paulo: Academia de Inteligência, 2003. P. 126 a 129.

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