domingo, 27 de março de 2011

O APARENTE PARADOXO CRISTÃO DO LADRÃO REDIMIDO E DO RELIGIOSO CONDENADO.

Por Belcorígenes de Souza Sampaio Júnior.


A Bíblia Sagrada nos narra a história de dois personagens intrigantes e que tiveram o roteiro das suas vidas redefinidos a partir de um contato pessoal com o Senhor Jesus Cristo. Referimos-nos ao chamado jovem rico e ao ladrão na cruz. Tais encontros se deram em circunstancias e momentos diferentes da trajetória terrena do Salvador e o que nos chama atenção nestes casos foi o critério que o Senhor da Vida usou para proferir juízo sobre a destinação eterna de ambos. Ao “condenar” o religioso jovem rico, habitual praticante de boas obras, ao inferno e prometer o céu ao defenestrado e pobre ladrão, Jesus Cristo promoveu um giro copernicano na maneira como se deve dar, e efetuar, a nossa relação pessoal e individual com o sagrado.

O cenário religioso da época dos fatos aqui citados não era diferente de qualquer outro. De uma maneira geral, durante toda a história das diversas práticas religiosas, os seres humanos foram encorajados a acreditar que a salvação pessoal (iluminação, crescimento, espiritualização, etc) se encontra na realização contínua e sistematizada de uma série de liturgias e ritos religiosos (aspecto interno das religiões) e na prática de um catálogo de boas obras (aspecto externo das religiões). Jesus cristo, porém, ao se manifestar sobre a condição espiritual do religioso jovem rico e do ladrão na cruz, subverte este postulado e estabelece um parâmetro completamente novo para a relação com Deus. Jesus afirmou que o jovem religioso (praticante) estava perdido, e que o ladrão condenado à morte por seus crimes, estava salvo. Como aceitar e entender este novo, e aparentemente paradoxal, paradigma estabelecido pelo filho de Deus?

A resposta pode ser percebida através de uma análise sistemática da doutrina do Cristo Jesus. Para Ele a dinâmica do relacionamento verdadeiro dos seres humanos para com Deus passa necessariamente pela real dimensão da sinceridade dos sentimentos de humilde. É necessário reconhecer públicamente que somos continuamente pecadores e, portanto, não merecedores de quaisquer bônus ou benefício celestial. Assim, todo o bem que emana de Deus para conosco decorre da Sua infinita bondade e misericórdia, não existindo nenhum mérito pessoal nisto. Consequentemente, não é aprovado quem a si mesmo se aprova, caso do jovem rico e religioso. Só é aprovado pelo Senhor dos senhores quem imerecidamente é por Ele aprovado. Some-se a isto a necessidade de uma verdadeira e genuína entrega da vida ao Senhor, dispondo-se a abrir mão de tudo o que for necessário para isto.

O jovem religioso ancorava-se em outro postulado. Acreditava que seria redimido tão somente em razão do seu mérito pessoal, suas boas obras, sua práxis religiosa. Não é outro o relato bíblico no livro de Marcos 10, verso 17 em diante: “E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom se não um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e tua mãe. Então, ele respondeu: Mestre, TUDO ISSO TENHO OBSERVADO DESDE A MINHA JUVENTUDE”. Não obstante a resposta daquele homem ser verdadeira pois, de fato, cumpria as ordenanças bíblicas integralmente, Jesus o confronta afirmando que isto não era o suficiente para alcançar a vida eterna e lhe pede uma demonstração de obediência e desapego material, no que aquele homem capitula e sela seu destino eterno.

O ladrão crucificado agiu diferente. Conhecedor da sua miserável situação de pecador (comum a todos nós) humildemente se dirigiu ao Senhor Jesus em busca de salvação pessoal. Não destilou um rosário de justificações e nem enumerou eventuais boas obras e práticas religiosas (e nem as possuía). Tão somente dirigiu o seu olhar ao Mestre e, arrependido, se humilhou diante Dele. Cria que Dele emanaria graça e salvação. Não se considerava merecedor de nada, mas confiou tão somente no amor do Pai, manifestado em Cristo Jesus, ali mesmo naquela horripilante cruz que também, igualmente, feria o Salvador. Digno de nota também citar que aquele condenado não tentou salvar a sua própria vida terrena pedindo ao Salvador livramento da sua horrível morte, como o fizera o seu outro companheiro de infortúnio. Diante destes gestos de sincera e singela fé e submissão o Senhor Jesus não se mostrou indiferente e imediatamente o convidou a partilhar do seu reino eterno.

Aprendemos assim que, segundo o magistral critério espitual estabelecido por Jesus Cristo, se alguém se julga MERECEDOR de alguma recompensa celestial está espiritualmente equivocado e cego, e em razão deste desvio erra o caminho e, consequentemente, está perdido. Ao contrário, há lugar e recompensa eterna para todo e qualquer ser humano que humildemente se colocar diante do Salvador a clamar pela imerecida salvação que provém da Sua graça, bondade, perdão e amor. Neste sentido é significativo encerrar esta reflexão citando as palavras do próprio Senhor Jesus Cristo no evangelho de João, no capítulo 14: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, NINGUÉM VEM AO PAI SENÃO POR MIM".



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